Revista
Junho de 1993
Reportagem
Mestre Luiz Távora:
"SBK, UM SISTEMA ADAPTADO
AO BIOTIPO DO BRASILEIRO".
As artes marciais vêm conquistando, nos últimos anos, espaço muito grande no País. Com isso, um número cada vez maior de pessoas procuram as academias na busca de uma melhor performance para o corpo e para a mente, mesmo porque, ao contrário de outras práticas esportivas, as artes marciais não se limitam apenas e melhorar o condicionamento físico, mas sim, proporcionam, igualmente, saudável bem-estar mental, indo pois de encontro nos princípios propagados por Juvenal e que indicavam que a saúde do corpo é condição indispensável do espírito: “Mens sana in corpore sano”.
Apesar de serem trazidas pelos povos do Oriente, as artes marciais, no entender do Mestre Távora, faixa preta, graduado em Karatê, formado em Educação Física pelo Centro de Ciências do Esporte da Universidade de Mogi das Cruzes/ SP, com cursos de extensão universitária nas áreas de musculação, treinamento aeróbico, nutrição, treinamento para sedentários e cardiopatas, psicologia do treinamento, Educação Física aplicada à Filosofia da Criança, entre outros, não podem deixar de passar por uma adaptação, para serem praticadas pelos brasileiros.
Fugindo das normas tradicionais que são empregadas pelos orientais o Mestre Luiz Távora, praticante do Karatê há mais de 25 anos, depois de anos de estudos, resolveu criar um sistema de treinamento - segundo ele - mais apropriado ao biotipo-fisico dos brasileiros. E assim nasceu o SBK – Sistema Brasileiro de Karatê.
Mestre Távora, o que vem a ser esse sistema?
"O SBK é um sistema de arte marcial que reúne os elementos simples de uma arte milenar oriental, formando, assim, a complexidade eclética, científica, disciplinar e pedagógica de seu composto, incorporada a uma visão atual dos povos ocidentais e adaptada aos princípios culturas do Brasil, que partem de fundamentos e costumes, chegando às seguintes consequências: demonstração matemática do que se propõe uma arte marcial ou ciência desportiva pela simples dedução das que já estão aprovadas, ou seja, organização mental, intelectual de um sistema adaptado a imagem, modo de pensar, sentir e agir dos brasileiros, explorando e valorizando seu potencial".
Prossegue o Mestre Luiz Távora: “Acima de tudo, o SBK é uma arte marcial que põe a prova o caráter, a personalidade, o espirito e o organismo de quem o pratica, fazendo com que uma luta interna existe para o praticante, levando-o a desafiar e vencer a si próprio, superando suas fraquezas à medida que explora e libera seus potenciais. Praticar a disciplina de arte marcial - ponto de vista do Mestre Távora - pelo método do Sistema Brasileiro de Karatê, é sair em busca do auto-conhecimento, é triunfar sobre a ignorância de si mesmo, tendo o corpo como caminho e a mente como estudo, buscando entendimento em si no que transcende o plano físico e técnico, pois o SBK é muito mais do que uma luta e está além do simples objetivo de defesa pessoal”.
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E explica: "A luta e a defesa pessoal, na visão da disciplina do método do SBK, são apenas um meio, uma ligação, uma ponta e não o fim do SBK em si mesmo”.
“E um tolo quem pensa que as artes marciais tem como objetivo ensinar somente a lutar, a abrigar ou desencadear os caminhos da violência; pensar assim e ignorar o verdadeiro caminho das artes marciais, praticada com o espírito nobre do guerreiro” - comenta o Mestre Távora.
“A arte marcial é muito mais do que uma luta - explica o Mestre criador do SBK -, pois transcende à violência que aparenta e se configura como fonte inibidora da agressividade, transformando-se em um detonador da solidariedade, fraternidade, igualdade, compreensão e respeito”.
Mestre Luiz Távora faz questão de salientar que o sistema Brasileiro de Karatê, o SBK tem por objetivos defender e realçar o trabalho, valor e esforço criador dos brasileiros, por achar que qualquer disciplina – seja ela cultural ou acadêmica de qualquer ontem permite o ajustamento de seus princípios no estudo da realidade atualizada de nosso País, contribuindo para o enriquecimento da cultura brasileira, uma vez que achamos nela pontos de adaptação aplicáveis a nossa conjuntura pátria quer no campo do esporte, da pedagogia ou da sociologia, prestigiando os valores nacionais. “Com este procedimento – diz ele - poderemos ter o direito de construir nossa autêntica imagem para defende-la das deformações tendenciosas vindas do extensor, agindo sempre com nobreza de princípios e dignidade de caráter, formando com, com isso, uma consciência coletiva, firmando-nos em alto grau no conceito das artes marciais".
A cultura de um povo – na visão do Mestre Távora – se expressa pelas artes sejam elas naturais, culturais ou acadêmicas. "Por isso afirma ele –, não devemos desenvolver, cultivar e conservar o perfil de culturas exteriores, pois a cultura é fundamental para a nação, porque trata ela, do sentido, da finalidade, perfil e existência de um povo, e somente um povo adulto, medido sobre o conceito cultural no sentido amplo, completo e universal".
"Só assim teremos um meio seguro de firmar nossos valores e promover a soberania cultural do nosso país, um país gigante, protegendo e fortalecendo a realização de nossos ideais e afirmar a amplitude de nossa cultura, conforme reguarda a Constituição brasileira em seu capítulo 3, art. 217, inciso 4 que reza: "É dever do Estado fomentar práticas esportivas formais e não formais como direito de cada um, observados, a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional". – aduz o Mestre Távora.
"O SBK Sistema Brasileiro de Karatê – diz o Mestre Luiz Távora – por ser um método de luta e auto-controle, um sistema eclético e não um estilo pré-determinado e convencionado, tem demonstrado seu potencial de assimilar e aplicar todos os segmentos de lutas marciais e esportes de combate, sem se atrelar a nenhum e poder expressar nosso potencial no que há de eficiente em cada um, desde que adaptado e ajustado aos princípios que regem a filosofia de disciplina e doutrinamento do seu sistema de luta e auto-controle, que tem como prioridade determinante a formação do ser humano integral, tanto na saúde física, psíquica e moral, tendo o corpo como instrumento e caminho e a mente como estudo, para poder transcender o plano físico e mental e poder aurir a experiência da terceira força”.
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Entrevista
NASCE A
CONFEDERAÇÃO DE
TODAS AS
ARTES MARCIAIS
A COBRAN – Confederação Brasileira de Artes Marciais e Esporte for criada – segundo seu presidente J.B. Henrique – como uma entidade de caráter unificador, normativo, conciliador, neutra e imparcial, por não estar comprometida com qualquer segmento esportivo ou cultural, tendo por compromisso resguardar o bom andamento de prática esportiva no País, respeitando os direitos de todos os professores, mestres e atletas. E como entidade normativa na área do desporto das artes marciais – segundo o presidente da COBRAN – a entidade não pode fugir dos princípios básicas que a fundamentam neste campo.
"No Brasil, cada modalidade desportiva tem um tratamento diferente, sendo que algumas recebem atenção especial por parte das autoridades constituídas do primeiro escalão do desporto nacional e outras não. Este é o caso das artes marciais. Por esse motivo, como dirigentes, estamos tomando posição no sentido de levarmos até nossas autoridades, o valor e a importância das artes marciais e esportes de combate no contexto social do País" – comenta o presidente da COBRAN, jornalista J.B. Henrique.
E acrescenta: "Por este motivo, e com este objetivo, precisamos mostrar a todos que nós, praticantes e dirigentes, estamos unidos em torno de urna só causa, qual seja, a organização e moralização de todos os segmentos das artes marciais e esportes de combate através da integração e amparo a esses segmentos, federados ou não, evitando assim o cáos e anarquia da dissidência e clandestinidade, na busca de legalizar e fortalecer o direito de todos e enaltecer os valores deste esporte, fazendo-se reconhecer e respeitar valores e direitos de cada um. Daí, a necessidade da integração e conscientização de todos com vistas a esse objetivo”.
Explica o presidente da COBRAN que "a entidade tem ainda, no seu caráter, o compromisso filantrópico e social de esclarecimento à criança, ao jovem e ao idoso, dos benefícios da prática das artes marciais, no desenvolvimento da saúde física, psíquica e moral, mostrando principalmente ao jovem que a prática das artes marciais pode salva-lo das armadilhas nocivas que o cotidiano das grandes cidades prepara para ele, corno a violência, os vícios, as drogas, as más companhias que geralmente o levam ao encontro das demais delinquências".
Assim – diz ainda o presidente J.B. Henrique – diante de tudo isso, estamos propondo a abertura das artes marciais e de seus fundamentos a todas as pessoas, como parte, interação e participação na sociedade e na vida. Queremos que as artes marciais participem das decisões de tudo aquilo que contribui para o crescimento do cidadão, da sociedade e do País”.
Uma das preocupações do presidente da COBRAN é fazer com que os brasileiros pratiquem artes marciais sem, entretanto, perder de vista o fato de que somos versáteis e inteligentes, capazes pois de discernir as exigências e necessidades de nossa cultura. "Por isso – diz que –, devemos mostrar garra e potencial no aprendizado que nos passaram nossos irmãos do Oriente, japoneses, coreanos e chineses entre outros, sem, no entanto, abortar de nossos corações, os valores patrióticos, de nacionalidade e de amor por nosso País, sem perdermos o nosso perfil e personalidade cultural de nosso povo. Por isso, a COBRAN quer provar que somos capazes de promover a união entre dirigentes e praticantes nos mais diversos segmentos das artes marciais e esportes de combate e assim, fazer vingar nossa força e capacidade de criar e realizar”.
“A COBRAN – friza seu presidente, lembrando velho adágio popular – não nasceu para ser servida, mas sim, para servir".
J.B. Henrique, presidente da COBRAN, ladeado pelo vice-presidente Luiz Távora (esquerda) e pelo diretor esportivo Edson Gonzalez.
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